by LCG. Outubro 2019
Talvez já se tenha deparado com a frase “There is no cloud. It's just someone else's computer” (“Não há nenhuma nuvem. É apenas o computador de outra pessoa”). A circular há alguns anos e reproduzida em canecas, t-shirts e tapetes de rato, a declaração tornou-se uma piada na comunidade tecnológica e estimulou diversas discussões sobre o que é realmente a cloud.
A verdade é que a computação na nuvem é uma realidade muito mais complexa do que esta frase tão redutora - e que tem contribuído para criar uma ideia totalmente errada de como a tecnologia da cloud funciona - pode fazer crer.
O cloud computing (computação na nuvem) é uma forma de disponibilização e utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), que pode ser entendida como uma evolução natural de modelos de TIC anteriores. Com a cloud, todo um conjunto de recursos de TIC escaláveis e flexíveis são fornecidos como um serviço utilizando as tecnologias da Internet. E esses recursos vão muito para além do serviço de armazenagem a que tipicamente associamos a nuvem: bases de dados, software, redes, analytics, backup e disaster recovery, CRM e alojamento são apenas alguns dos serviços que a cloud disponibiliza às empresas sem necessidade de aquisição de equipamentos e estruturas físicas.
A computação em nuvem, assenta em três modelos de serviço:
Quando pensamos em serviços acessíveis a qualquer utilizador, como a DropBox, é preciso perceber que “o computador de outra pessoa”, não está apenas a disponibilizar a estrutura física na qual alojamos os nossos dados, mas sobretudo, a fornecer todo o conjunto de serviços que estão por trás desse serviço de armazenamento remoto, tal como o desenvolvimento do software necessário à gestão dos ficheiros ou a implementação de novas funcionalidades que vão ao encontro das necessidades dos utilizadores.
Sim, a cloud (também) é o computador de outra pessoa (ou a máquina virtual alojada). Mas é sobretudo um conjunto de serviços e regras de aprovisionamento que ajudam as empresas a responder de forma muito mais rápida e ágil às mudanças e evoluções constantes que o ritmo acelerado da transformação digital impõe. Através de data centers caracterizados por uma alta escalabilidade, e da automatização e otimização de processos, aliadas à flexibilidade, à redução de custos e à fiabilidade, a cloud possibilita muito mais do que simplesmente armazenar dados ou correr uma aplicação num computador que não está fisicamente nas instalações da empresa.
As tecnologias de computação na nuvem estão disponíveis para todas as empresas, qualquer que seja a sua dimensão. E se souberem aproveitar as oportunidades, são precisamente as empresas mais pequenas as maiores beneficiadas. Antes da cloud, as organizações precisavam de fazer grandes investimentos na aquisição e manutenção de complexos sistemas de servidores – um custo que apenas as grandes empresas conseguiam suportar. Hoje, analytics, software, armazenamento e redes estão disponíveis através da Internet, sem que para tal as empresas tenham de adquirir infraestruturas e equipamentos, o que permite às empresas de menor dimensão tirar partido de recursos antes só acessíveis às grandes organizações. Isto ajuda as pequenas empresas a serem mais competitivas e a desenvolver o seu negócio de forma gradual e sustentada, à medida das suas necessidades.
No momento de pensar em migrar para a cloud, há que ter em conta que não existe uma solução única para todas as empresas. Se isto pode parecer confuso, a boa notícia é que esta flexibilidade e possibilidade de parametrização é precisamente uma das grandes vantagens do mundo da cloud. Por exemplo, a solução mais adequada à realidade e ambições da sua organização pode passar por uma combinação de várias alternativas, entre a cloud pública (um serviço disponível para vários utilizadores), a cloud privada (desenvolvida para responder em exclusivo a uma empresa de forma individual) e a cloud híbrida (uma combinação flexível de cloud pública e privada).
Optar por Saas, Paas ou IaaS é uma decisão que deve também enquadrar-se numa estratégia previamente definida.
Da mesma forma, nem sempre migrar todos os seus dados ao mesmo tempo pode ser a melhor estratégia para a sua empresa em particular. Pode, por exemplo, escolher uma área da sua organização para começar a implementar uma mudança de forma gradual, adaptando a sua empresa de forma sustentada ao cenário da cloud.
O ideal é escolher uma solução que permita à sua empresa crescer e que se adapte às suas necessidades futuras.
Apesar da crescente massificação da cloud, a questão da segurança continua a ser um dos principais motivos para algumas empresas não darem o passo em frente quando se trata de optar por uma solução na nuvem. Se a grande maioria das empresas já utilizam soluções de cloud em domínios como as bases de dados, o e-mail ou o CRM, há ainda muitas áreas em que é possível alargar a estratégia de cloud e conquistar produtividade. Ainda existe algum receio de que ao guardar dados sensíveis na Internet, através de fornecedores de serviços cloud, e não nos servidores físicos da própria empresa, os dados fiquem mais expostos a possíveis falhas. E esta desconfiança é ainda maior nos casos em que os data centers se encontram noutro país ou mesmo noutro continente.
Contudo, como refere Jay Heiser, vice-presidente do departamento de investigação da consultora Gartner, a questão que os CIO devem colocar-se não é tanto a de saber se a cloud é segura, mas sim, se estamos cada um de nós enquanto utilizadores a utilizar a cloud de forma segura. Acrescentando que na maioria dos casos de falhas de segurança com a cloud o que se verifica é que a origem da falha é interna e não no fornecedor do serviço, Heiser desafia os CIO a definir uma estratégia de cloud que inclua decisões e medidas concretas para mitigar riscos. Informar, educar, consciencializar todos os que têm contacto com os dados geridos na cloud é muito importante para garantir as melhores práticas de segurança.
Além das empresas, também os fornecedores dos serviços cloud têm um nível de especialização cada vez mais elevado e investem continuamente na tecnologia de proteção de dados online, desenvolvendo, por exemplo, criptografias e certificados de segurança digital que tornam estas soluções cada vez mais seguras. Os próprios instrumentos de auditoria e certificação são desenvolvidos para assegurar a fiabilidade dos sistemas, que, quando corretamente implementados e geridos conseguem garantir um nível de segurança superior ao da maioria das infraestruturas próprias.
Se uma das suas ambições é melhorar os processos de trabalho da sua empresa para ganhar eficiência, uma estratégia de cloud-first (cloud-primeiro) pode ser a solução de que precisa para ser mais competitivo. Esta estratégia passa pela adoção de práticas inovadoras, pela alteração profunda de processos e até pela introdução da disrupção, com o objetivo de desenvolver as melhores práticas para promover a inovação, a produtividade e a competitividade. Sectores tão diversos como a Saúde, ou a Gestão Municipal estão a apostar cada vez mais na nuvem e as empresas e sectores que se vão destacar serão aquelas que colocam a transformação digital no centro da sua estratégia e apostam num modelo cloud-first. Através desta estratégia, gestores, técnicos de TI, responsáveis pelo negócio e fornecedores das soluções cloud trabalham em conjunto para desenhar, implementar e gerir novos processos e novas formas de trabalhar e gerir a informação. E isto é muito mais do que tecnologia ou uma simples questão de armazenamento num computador que não o da sua empresa: é uma plataforma para ganhar competitividade e diferenciar-se dos seus concorrentes.
O software cloud-native (aquele que é nascido na nuvem) conduz a uma verdadeira mudança de paradigma que se estende a todas as áreas de uma empresa. Um software pensado de raiz para a nuvem é desenhado com um objetivo de escalabilidade, e de dotar as empresas de uma maior agilidade e robustez tecnológica.
As empresas que conseguirem tirar partido da cloud, podem beneficiar de oportunidades sem precedentes para se expandiram e criarem valor, repensando os seus modelos e investindo nas áreas de governação e atualização de competências para se preparar para os desafios deste novo paradigma.
Se uma das grandes vantagens da cloud é a poupança que traz às empresas ao longo do tempo através da redução de custos em hardware de armazenamento, em equipas dedicadas à TI ou na compra regular de licenças, é importante que selecione criteriosamente os fornecedores e serviços que vão ao encontro do que procura e que têm em conta as suas necessidades atuais e futuras.
O facto de estar a utilizar o “computador de alguém” não significa que tenha de ficar preso a uma empresa fornecedora. Existem hoje instrumentos de migração de plataformas baseados nas regras da indústria que possibilitam uma mobilidade mais ágil.
A computação na cloud está a crescer rapidamente a nível global e é já uma tendência incontornável nas empresas. Trata-se de um sistema complexo que liga vários componentes e que ajuda as empresas a serem mais eficientes, ágeis e competitivas. E isso é muito mais do que simplesmente utilizar o computador de outra pessoa.