by LCG. Novembro 2019
De acordo com a mais recente atualização do relatório das Nações Unidas sobre urbanização, mais de metade da população mundial (55%) vive hoje em áreas urbanas. De acordo com o mesmo relatório, estima-se que este valor atingirá os 68% em 2050. A crescente urbanização, em conjunto com o próprio fenómeno de crescimento da população mundial poderá significar que em 30 anos as cidades vão ter de ser capazes de integrar mais de 2,5 mil milhões de pessoas.
Se por um lado, as cidades representam um motor de crescimento económico e social e oferecem aos seus cidadãos inegáveis oportunidades de desenvolvimento financeiro, profissional e humano, é importante refletir nos enormes desafios que o acelerado crescimento urbano a que vamos continuar a assistir nas próximas décadas traz consigo. De facto, questões como o potencial crescimento da criminalidade em zonas de grande concentração populacional, o aumento dos níveis de poluição ou as crescentes dificuldades na mobilidade, constituem apenas algumas das preocupações das pessoas que habitam as cidades. Os agentes responsáveis pela gestão urbana – governantes, mas também a iniciativa privada e os próprios cidadãos - têm de ser capazes de assegurar a sustentabilidade ambiental, ao mesmo tempo que garantem a saúde, a segurança e a qualidade de vida dos seus residentes.
A sustentabilidade é um elemento essencial quando falamos em procurar respostas para os desafios que o crescimento urbano está a impor na forma como gerimos os nossos recursos. Um crescimento urbano sustentável é aquele que se baseia em três eixos – o económico, o social e o ambiental. Quando enquadrado por uma visão estratégica, este triângulo resulta num desenvolvimento económico ético, consciente do seu impacto nos recursos naturais e da importância de uma distribuição equitativa de riqueza. A nível social, uma cidade sustentável é aquela que se preocupa com a dimensão humana e que coloca como prioridade o bem-estar das pessoas e o respeito pela comunidade. A sustentabilidade ambiental é um vértice importantíssimo deste triângulo e diz respeito à minimização do impacto ambiental através, por exemplo, da monitorização da quantidade de água e energia utilizada, da pegada de carbono ou da medição dos níveis de CO2.
Há muito que as smart cities deixaram de ser um sonho futurista. Embora seja um conceito relativamente novo, é hoje uma realidade que, embora com níveis de implementação muito diferentes entre países (e com diferenças significativas entre os países mais e menos desenvolvidos), integra a maioria das discussões quando o assunto é planeamento urbano e sustentabilidade. Mas o que é então uma cidade inteligente? Uma smart city é uma cidade que pretende responder aos desafios da sustentabilidade e que tem como objetivo garantir o bem-estar dos fluxos humanos nas cidades modernas, utilizando para tal ferramentas desenvolvimentos tecnológicas. É a tecnologia que está por trás desta emergente inteligência urbana no planeamento, na construção e na gestão das cidades. Se é hoje inquestionável o impacto da adoção de ferramentas baseadas em Big Data, a inovação proporcionada pela Indústria 4.0 estende-se agora à gestão das cidades, que são cada vez mais inteligentes.
Através das tecnologias digitais, as redes e serviços “tradicionais” tornam-se mais eficientes, trabalhando em benefício das pessoas. E o termo “pessoas” é mesmo central quando falamos em smart cities: é que um dos pilares das cidades inteligentes são as smart people, isto é, os cidadãos, conscientes do seu papel na comunidade e ligados a uma rede, que alimentam com os seus dados e com a qual, interagem através de sensores e dos seus smartphones. Aplicações IoT (Internet das Coisas - do Inglês, Internet of Things) recebem, analisam e gerem dados em tempo real com o objetivo de ajudar os municípios, as instituições e os cidadãos a decidir melhor no que diz respeito à forma como os recursos são geridos. Através destas ligações as cidades podem melhorar a forma como a energia é distribuída, diminuir os engarrafamentos e melhorar a qualidade do ar.
As smart cities vão por isso, muito para lá da simples tecnologia: correspondem a uma mais eficiente rede de transportes, a formas mais eficientes de aquecimento e iluminação, a uma gestão mais eficaz de água, da energia e dos resíduos. De acordo com o Cities in Motion Index, do IESE Business School em Espanha, são 10 as dimensões que indicam o nível de inteligência de uma cidade: governança, administração pública, economia, ambiente, relações internacionais, coesão social, mobilidade e transporte, capital humano, planeamento urbano e tecnologia.
Contudo, este caminho rumo a cidades mais limpas, inteligentes, seguras e eficientes não pode deixar de ter em conta a realidade atual. E se por uma lado, os cidadãos estão cada vez mais conscientes da importância de repensar a forma como gerimos os nossos recursos, por outro, é fundamental pensar em questões como a integração da inovação nos municípios, tendo em conta as atuais regras em termos de contratações públicas – atualmente os processos de contratação são lentos, burocráticos e frequentemente muito mais pautados por limitações financeiras, do que por uma visão de investimento a médio e longo prazo na qualidade de vida dos cidadãos e no desenvolvimento sustentável das comunidades.
Apesar disso, o envelhecimento da população (que torna urgente pensar o desafio da mobilidade com outra perspetiva), a crescente pressão demográfica (igualmente com impactos significativos na mobilidade, mas também, por exemplo, na qualidade do ar), o aumento do número de “nativos digitais” (cidadãos que nunca viveram sem internet e que estão habituados a estar permanentemente ligados e a consultar os seus dados em tempo real), o crescimento da tendência de bonificação dos cidadãos com comportamentos sustentáveis (são cada vez mais os municípios e empresas que premeiam os utilizadores com consumos responsáveis) e a preocupação crescente com o aumento de tempo de vida útil dos equipamentos (uma preocupação financeira mais também de sustentabilidade), representam um cenário em que as cidades inteligentes se apresentam com o caminho certo para uma sociedade sustentável e inclusiva.
Organizam fluxos, geram inteligência através de dados, possibilitam a monitorização de consumos, ajudam a tomar decisões mais conscientes e rigorosas, interagem com os cidadãos e adaptam-se em tempo real às suas necessidades, ajudam os municípios e os cidadãos que neles habitam a poupar e contribuem para uma melhor qualidade de vida de todos – são assim as cidades inteligentes.
A LCG desenvolve soluções para gestão e controlo de smart cities, trabalhando na implementação de estratégias de sustentabilidade e inovação nos municípios.