Redes de inovação: para inovar é preciso colaborar

Redes de inovação: para inovar é preciso colaborar

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by Gonçalo Ribeiro, Head of Management Consulting e Group HR Director na LCG. Novembro 2021


Redes de inovação: para inovar é preciso colaborar

 

“Um ecossistema é algo muito poderoso e que vai para lá da sobrevivência de uma empresa”. Quem o afirma é Gonçalo Ribeiro, Head of Management Consulting e Group HR Director na LCG, que tem vindo a acompanhar várias organizações a nível nacional e internacional na sua caminhada para se tornarem mais inovadoras através do trabalho colaborativo.

Nesta entrevista, Gonçalo Ribeiro traça-nos a relação entre colaboração e inovação, faz-nos um ponto de situação em relação ao nosso país e fala-nos das enormes oportunidades que a construção de um ecossistema colaborativo está a trazer para as empresas que colaboram entre si para conquistar objetivos comuns.

 

Considera que empresas portuguesas estão focadas em trabalhar em conjunto em redes de inovação? 

Diria que esse é um dos grandes desafios que sempre tivemos e continuamos a ter em Portugal: a capacidade de cooperarmos. É verdade que tem acontecido uma mudança de paradigma em Portugal, que existem bons exemplos de empresas “nacionais” (temos 4 unicórnios), que até virou moda a Inovação na sociedade, mas ainda estamos um pouco longe da criação do ecossistema cooperativo que desejaríamos com a produção real de valor para o ecossistema nacional.

E como explica essa resistência?

A cultura tem aqui um papel central e não nos podemos esquecer que as organizações são feitas de pessoas e que é o lado humano que muitas vezes bloqueia o processo de mudança. No nosso país, ainda temos um pouco a mentalidade “o segredo é a alma do negócio” e de sermos os “donos da razão”, o que por si só é um obstáculo para trabalharmos de forma mais colaborativa. Para conseguirmos colaborar temos de nos dar a conhecer, aceitar que outros têm boas ideias ou serviços, que podemos criar pontes, bem como, criar novos caminhos em parceria.

...um cenário bem diferente do que acontece lá fora?

Sim, tenho acompanhado de perto a evolução dos ecossistemas de inovação e é interessante perceber como em 2012 as empresas da Bay Area de São Francisco, enquanto ecossistema de startups, representavam já 50% do capital de risco dos EUA e 1/3 a nível mundial, e como este cenário foi evoluindo para um posicionamento de um Global Marketplace de ideias, talento e capital. Silicon Valley tornou-se um superhub de ligação a outros centros de inovação e consolidou-se como uma referência para o mundo inteiro.

Mas é também interessante perceber como nos dias de hoje já temos um pouco por todo o mundo, regiões que são totalmente dinamizadoras de um ecossistema inovador em evolução e com ligações globais, com laboratórios e centros cooperativos, universidades e campus com inovação onde a Europa tem assumido uma postura diferente.

 

“No nosso país, ainda temos um pouco a mentalidade ‘o segredo é a alma do negócio’, o que por si só é um obstáculo para trabalharmos de forma mais colaborativa"

 

Quais são os grandes desafios de uma empresa, quando quer fazer parte de um ecossistema colaborativo?

Em primeiro lugar, é fundamental definir o seu posicionamento no ecossistema, responder à questão, onde se pretende inserir no ecossistema? E para isso é preciso estar preparado saber liderar e transformar a cultura da organização, porque se a organização não estiver culturalmente preparada para esse salto, muito dificilmente pode abraçar a inovação.

Outro ponto essencial é identificar as necessidades da empresa e dos seus clientes, os novos hábitos dos consumidores e encontrar quais parceiros que permitem um posicionamento em novos campos de atuação.

Por outro lado, a tecnologia que é uma das principais forças que molda o negócio, pode ser um elemento facilitador nestas mudanças fundamentais na estratégia da cadeia de valor, mas também é preciso perceber qual a melhor forma para elevar a organização a um novo nível de digitalização.

Acrescentaria ainda que as empresas enfrentam o grande desafio da sustentabilidade do seu negócio, quer a nível ambiental, regulatório e da própria força da sua marca, o que coloca a pressão adicional de fazer novos investimentos.

Tudo isto impõe desafios enormes à gestão, à cultura, às suas pessoas e ao próprio ecossistema, que tem de ser capaz de atrair as pessoas certas para serem ativos desta rede.

Como é que a LCG tem encarado estes desafios? Há alguma aprendizagem neste processo que gostasse de destacar?

Uma coisa que rapidamente percebemos é que se não existir um “fit cultural”, um encaixe com a cultura da startup com quem estamos a pensar colaborar, não há hipótese de haver uma parceria para o futuro. Isso é realmente importante e acredito que mesmo antes de se pensar em prototipar é preciso investir algum tempo a analisar se esse potencial parceiro faz sentido na nossa visão e se culturalmente partilhamos ideias semelhantes. Por isso, aconselho a que ao criar a sua rede de colaboração, a organização perceba se existem valores em comum e confiança na relação, pois estes são pilares essenciais para a construção de uma rede sólida e que dê frutos.

 

“Se não existir um encaixe com a cultura da startup com quem estamos a pensar em colaborar, não há hipótese de haver uma parceria para o futuro"

 

O investimento numa rede de colaboração passa muito pelo investimento no digital?

Sim, sem dúvida. E cada vez mais, as empresas têm de colocar o foco nas tecnologias relevantes, ou seja, naquelas que têm realmente impacto no seu negócio, a curto, médio e longo prazo. As tecnologias certas permitem aumentar a capacidade de resposta, diminuir custos e acelerar a capacidade de inovar. E num cenário altamente concorrencial, em que há pouca ou nenhuma margem para erros, é vital escolher as tecnologias como IoT, Cloud, Robótica, IA, Impressão 3D, Armazenamento, entre outras, que vão gerar valor para o negócio.

Uma empresa que não invista na sua rede arrisca-se a não sobreviver?

Sim, embora acredite que investir numa rede de colaboração seja mais do que uma questão de sobrevivência da própria empresa. Neste cenário pós-covid é vital que as empresas consigam passar confiança a toda a sua rede, sejam clientes, empresas parceiras, e até em algo que é dado como garantido, como que as pessoas se sintam seguras para voltar para os seus espaços de trabalho ou tenham confiança e condições para trabalharem remotamente, o que pode também ser uma vantagem competitiva. Mas o investimento numa rede é também aquilo que nos coloca no caminho certo para que, em conjunto, conseguirmos dar respostas aos desafios de mercado, às expectativas do cliente, mas também a cumprir as metas ambientais e mitigar os efeitos das alterações climáticas, já que este não é um trabalho que se faz sozinho, de forma isolada. Um ecossistema é assim, algo muito poderoso que pode ir muito para lá da sobrevivência de uma empresa, podendo ter um impacto enorme no mundo.