by Sofia Pereira de Castro, Service Delivery Manager na LCG. Setembro 2019
A salvaguarda de privacidade das nossas crianças e adolescentes depende do nível de literacia digital de todos nós: pais, avós, tios, educadores, professores, irmãos mais velhos, tutores, e é claro, das próprias crianças e adolescentes.
Se todos soubermos aproveitar o melhor que a tecnologia nos proporciona, se aprendermos a defender-nos e a defender aqueles que amamos, podemos ter vidas muito mais saudáveis e seguras.
No último fim de semana tive de visita em minha casa uma grande amiga e a sua filha de 11 anos. Ela não sabia, mas quem parametrizou o seu telemóvel antes que lhe fosse entregue como presente de Natal fui eu, a pedido da mãe. Não lhe dissemos nada para que não se sentisse controlada. Fizemos coisas simples, como ativar uma notificação para o email da mãe quando ela instalasse uma aplicação, parametrizámos o software de maneira a que o email da mãe fosse notificado em caso de alteração de passwords ou software, e parametrizámos as definições de privacidade e segurança das aplicações que a filha queria ter instaladas. Durante o processo, aproveitei para dar umas lições à mãe, que se sente agora muito mais segura e com a consciência de que deu à filha a liberdade necessária para ela crescer, mas com o nível de proteção adequado à sua idade.
No domingo passado, a meio de uma conversa, ela perguntou-me o que é que eu fazia. E eu disse-lhe que trabalhava na área de segurança, que permite proteger as pessoas quando usam aplicações ou determinadas páginas online (tive de simplificar, não é?), ao que ela respondeu: “então deves perceber de telemóveis!!! Consegues fazer com que só os meus amigos vejam o que eu ponho no TikTok?”
A sua preocupação em proteger-se de estranhos aos 11 anos mostrou-me que o prisma com que olhamos para a privacidade de crianças e adolescentes, e as ações que tomamos para a manter, tem de mudar: é fundamental começarmos a pensar em educar os mais pequenos sobre tecnologia, dar-lhes conhecimentos que lhes permitam navegar neste novo mundo digital de forma segura e confortável, explicar-lhes a perenidade daquilo que publicam e que o facto de empresas como o Facebook, o Instagram e o TikTok terem as suas fotos guardadas num servidor, pode levar a que um dia, caso divulgadas, possam ficar em maus lençóis. É preciso explicar às crianças que estão institucionalizadas que é possível terem acesso às redes sociais e serem crianças como as outras, desde que tenham certos cuidados, como impedir que os taguem, utilizar nomes e perfis alternativos e desligar a localização no GPS, por exemplo.
Os educadores nas escolas precisam de aprender também a usar a tecnologia para saberem identificar situações que só aparecem no recreio. Os professores podem aprender a usar o vício do telefone dos miúdos em seu proveito, ajudando os pais e os miúdos ao identificar situações que antigamente não passavam pela tecnologia. No nosso tempo de criança, passávamos papelinhos escritos nas aulas, hoje existe o WhatsApp. Era tão mais fácil descobrir o que se passava do que é hoje em dia, mas não é de todo impossível.
Nos anos 80 fizeram-se campanhas sobre reciclagem que tiveram um efeito educativo e construtivo na geração que hoje tem 40 anos e que, além de reciclar de forma automática, ensina os filhos a fazê-lo. Campanhas que deram frutos tão positivos como esta foram possíveis porque alguém percebeu que é de pequenino que se moldam mudanças de futuro. Navegar no mundo digital requer o mesmo esforço que ensinar a reciclar. É preciso educar o nosso futuro tecnológico.