Um roadmap de liderança para o futuro

Ser líder no pós-covid: um roadmap de liderança para o futuro

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by Gonçalo Ribeiro, Head of Management Consulting e Group HR Director na LCG. Abril 2021


Ser líder no pós-covid: um roadmap de liderança para o futuro

 

A pandemia provocou grandes alterações na forma como trabalhamos, comunicamos ou gerimos o nosso tempo e exigiu de cada trabalhador uma rápida capacidade de adaptação às transformações neste “novo normal”.
Mas este momento de crise está a exigir também aos líderes um novo mindset e todo um conjunto de competências fundamentais para liderar num futuro que se adivinha muito diferente.
Comunicar com clareza, manter a coesão entre as pessoas, abraçar as potencialidades do digital, partilhar uma visão de futuro e aprender com os erros. Estes são alguns dos pilares da liderança em tempos de crise que Gonçalo Ribeiro, Head of Management Consulting e Group HR Director na LCG, destaca como essenciais para os líderes do futuro.

 

Se uma boa liderança sempre foi indispensável em qualquer empresa, hoje, mais do que nunca, o líder desempenha um papel central no rumo da organização. E Gonçalo Ribeiro considera que para liderar é preciso começar por saber comunicar já que, sem essa capacidade, dificilmente os trabalhadores se podem sentir incentivados e comprometidos num tempo de tantas incertezas:

 

“É essencial clarificar com o maior rigor possível o que se espera de cada membro da equipa. As pessoas têm de ficar com uma noção clara de qual é o seu papel no todo que é a organização, caso contrário, muito facilmente se vão sentir perdidas”,

 

refere. E como pode um líder garantir que a sua comunicação é clara para que cada trabalhador assuma o compromisso de cumprir com o que é esperado do seu trabalho? A resposta passa em grande parte pela flexibilidade e pela empatia:

 

“Os líderes de hoje têm de perceber que a rotina dos seus trabalhadores mudou. Eles estão em casa, muitas vezes a partilhar o espaço com a família, a ajudar os filhos na escola e a desempenhar tarefas domésticas. É preciso perceber a situação única de cada trabalhador e dar-lhe a flexibilidade para desempenhar as suas tarefas de uma forma que seja realista para a sua realidade atual. E isso pode significar, por exemplo, permitir-lhe ter um horário que não é o que tinha quando estava no escritório, mas sim, um horário que funcione para si e que lhe permita cumprir os seus objetivos.

 

Mas será que a falta de proximidade física compromete inevitavelmente o trabalho de um líder quando o assunto é manter as suas equipas unidas? Para o especialista, a resposta é um expressivo “não”, até porque após uma fase de adaptação com as normais dificuldades, “o que se tem percebido neste contexto pandémico é que os líderes que têm sucesso são aqueles que utilizam o virtual para promover a proximidade e a coesão entre as suas equipas.” A chave passa por criar um ambiente virtual próximo e que permita manter viva a componente humana – um elemento fundamental para que os trabalhadores se sintam incentivados comprometidos:

 

“O líder tem de ser capaz de colocar todos os membros da sua equipa a “tocar-se”. Nesta altura, isto significa que têm de ser criados momentos para que as pessoas se encontrem, se ouçam e se percebam, para lá da troca de mensagens e dos e-mails.

 

O ser humano precisa de contacto, precisa de saber como está o outro, precisa das expressões faciais, do tom de voz, e, ao contrário do que alguns líderes ainda pensam, isto, embora de forma diferente, é totalmente possível no virtual.”

 

Este ambiente de incerteza, que pode ser entendido pelo acrónimo VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) corresponde a uma mudança total de paradigma. Dos líderes, exige-se a consciência de que o mundo mudou e de que este “novo normal” vai trazer desafios que ainda estamos longe de conseguir prever:

 

“Tínhamos um conjunto de certezas que, de repente, desapareceram. E a liderança que não encara esta mudança, entra num modelo de sobrevivência que é fatal para qualquer negócio.”

 

É por isso que depois de assegurar a continuidade da operação, um líder tem de ter uma visão de futuro e partilhá-la com os seus colaboradores. Em momentos de crise, a liderança tem de se fazer sentir e nenhum líder se pode manter fechado na sua bolha, longe das pessoas, já que

 

“é justamente nestas alturas tão difíceis que os colaboradores mais precisam de sentir que o seu líder os está a levar a bom porto, que tem uma visão para o futuro da empresa, que está a ser criativo, a procurar novos mercados, soluções e oportunidades para crescer. Se um líder conseguir passar esta visão de futuro, vai com certeza, manter as suas pessoas comprometidas com a sua liderança. Este é o princípio básico da visão partilhada de liderança em que todos sentem que fazem parte de algo maior.”

 

Embora quase ninguém estivesse verdadeiramente preparado para uma crise desta dimensão, é precisamente em momentos de grandes dificuldades que muitos líderes emergem e mostram estar à altura dos desafios. Como explica Gonçalo Ribeiro:

 

“Muitos líderes não estavam minimamente preparados para esta crise e agiram demasiado tarde ou ficaram muito aquém do que seria necessário. Mas, ao mesmo tempo, em muitas organizações emergiram líderes que se destacaram porque perceberam que a liderança está a sofrer grandes transformações e que liderar no futuro será muito diferente das formas de liderança do passado, baseadas na distância e na rigidez das hierarquias.”

 

Mas a adaptação à mudança é um caminho que não se faz sem erros, “até porque nunca se está totalmente preparado para tudo”. O segredo é saber aprender com os erros, ou não fosse a liderança em grande medida feita de autoaprendizagem:

 

“Não tenhamos dúvidas de que todos os líderes erram, mesmo os que são excelentes. A diferença é que um bom líder aprende com esse erro porque quer continuar a crescer. E particularmente em momentos de crise, é totalmente normal tomar más decisões. Mas essas são oportunidades para um líder mostrar que aquele caminho não resultou e que não é por isso que vai baixar os braços. Diria mesmo que um bom líder é aquele que não perde a oportunidade de aprender com a crise e que vê nas fases mais conturbadas, oportunidades para repensar o seu negócio e a sua liderança, e para unir os seus colaboradores sob uma ideia de futuro.”