Entrevista Sérgio Abrantes, Head of Finance & Accounting da LCG

Entrevista Sérgio Abrantes, Head of Finance & Accounting da LCG

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by LCG. Setembro 2021


“Os programas de incentivo são uma oportunidade e uma alavanca para as empresas inovarem e para se reposicionarem no mercado, independentemente da sua dimensão”

 

A resiliência e a capacidade de reinvenção têm sido os trunfos dos empresários portugueses para fazer face à crise provocada pela pandemia. Sérgio Abrantes, Head of Finance & Accounting da LCG, destaca ainda que os empresários devem encarar o futuro com otimismo, mas que para aproveitar as oportunidades dos programas de incentivos é fundamental apostar na preparação.

 

Como avalia os impactos que os diferentes programas de apoio financeiro têm tido nas empresas portuguesas?

Desde a entrada de Portugal na União Europeia, que a canalização de verbas, através de diversos programas de financiamento, tem sido decisiva para a reabilitação da nossa economia e para a convergência económica com os restantes países da União Europeia.

As verbas contratualizadas pelo diversos Governos para o apoio às empresas e ao sector público têm sido vitais para a modernização do país e para o desenvolvimento do tecido empresarial português, permitindo aumentar a competitividade das empresas e a criação de novas oportunidades de investimento no território nacional.

Outra das mais-valias destes apoios tem sido o reflexo no crescimento e na qualificação de emprego em Portugal, permitindo às empresas, por essa via, aumentar as competências dos seus recursos humanos, capacitando-os e preparando-os para os desafios da criatividade, da inovação e da tecnologia.

 

E em particular, os programas de incentivo face à pandemia?

Os danos económicos causados pela pandemia e as diversas ondas de choque na sociedade foram devastadores e impossíveis de resolver de forma isolada, tendo em conta o mundo globalizado em que vivemos. Este facto obrigou a uma resposta conjunta, nomeadamente no que diz respeito à União Europeia, para tentar travar os seus impactos ao nível económico e social, o que se veio a consubstanciar num pacote de ajuda específica às empresas e ao Estado.

Como é sabido, o impacto destas crises é tanto maior quanto mais frágil for a economia atingida, pelo que para Portugal, tratando-se de uma economia historicamente débil, os apoios recebidos foram imprescindíveis e determinantes para sustentar a quebra da produção nacional e permitir manter os postos de trabalho, evitando assim o colapso geral da economia e das famílias.

Nomeadamente no continente, os programas APOIAR, ADAPTAR e tesouraria Covid-19 possibilitaram o reembolso cerca de 80% dos investimentos relacionados com a adaptação às medidas de segurança e distanciamento social por consequência do COVID-19. Destaco também as comparticipações em função da quebra de faturação por setor de atividade e as linhas de tesouraria a taxas bonificadas.

Nos Açores, por exemplo, onde existe algum custo de insularidade, as linhas foram mais diversas (cerca de 25 medidas de apoio) e sobretudo relacionadas com a manutenção dos postos de trabalho. Estas medidas foram desde as comparticipações mensais de apoio à tesouraria não reembolsáveis, até à conversão parcial de linhas de apoio à tesouraria em apoios não reembolsável no valor de 5,2 salários por cada posto de trabalho mantido, nomeadamente no setor da Restauração e Turismo.

 

O atual cenário económico levou muitas empresas ao encerramento. As que sobreviveram, estão a conseguir dar a volta à crise? Qual o papel dos programas de incentivo neste aspeto? Conhece exemplos de sucesso em que os programas de incentivo foram fundamentais para garantir a continuidade da operação, mas também para incentivar a Inovação e o Desenvolvimento Tecnológico?

Felizmente os exemplos são muitos ao nível nacional, sendo mais importante destacar a capacidade de resiliência e de reinvenção dos empresários portugueses face a esta nova conjuntura. Neste processo, que ainda não terminou, todos foram importantes na resposta à crise, desde o Estado às empresas, passando por todos os seus colaboradores, que se adaptaram tecnologicamente e em tempo record, a novas formas de trabalho e de comunicação.

Como não podia deixar de ser, os incentivos, nesta fase, foram dirigidos exclusivamente a apoiar a tesouraria das empresas que foram obrigadas a parar a sua atividade laboral, evitando o seu encerramento definitivo e o despedimento dos seus trabalhadores.

 

Os programas de incentivo podem ser uma oportunidade para que as empresas repensem a sua estratégia e pensem em novos produtos e serviços de forma a adaptar-se a um mercado que conheceu grandes transformações desde o início da pandemia?

Os programas de incentivo são sempre uma oportunidade e uma alavanca para as empresas inovarem e para se reposicionarem no mercado, independentemente da sua dimensão. No entanto,

os próximos tempos irão exigir maior ponderação, por parte de empresários e de empreendedores, ao nível da definição da estratégia empresarial a seguir, em resultado do nível de incerteza da retoma dos mercados.

Neste sentido, afigura-se como determinante a capacidade das empresas e dos seus empresários em gerar acordos e parcerias estratégicas no âmbito do desenvolvimento dos seus negócios, com o objetivo de os tornar mais fortes e preparados na resposta às crises.

 

Considera que os empresários portugueses estão hoje mais atentos à informação sobre os apoios para as suas empresas? Que balanço faz da evolução do nível de conhecimento dos empresários?

De uma fora geral, os empresários portugueses têm tido ao longo do tempo conhecimento da existência de apoios financeiros. No entanto, dada a crescente relevância mediática deste assunto e a necessidade de financiamento das empresas, tem aumentado a procura de informações mais detalhadas acerca dos vários programas, nomeadamente no que diz respeito aos requisitos, especificidades e às formas de financiamento dos diferentes programas, com o objetivo de estarem mais bem preparados para decidirem sobre a oportunidade da sua candidatura.

A nossa experiência vai no sentido de que a desconfiança sobre os incentivos e a ideia de que os incentivos são só para alguns está a desvanecer-se, estando progressivamente a ser substituída pelo conhecimento por parte dos empresários de que

as candidaturas aos incentivos devem ser bem estruturadas e adaptadas à realidade de cada empresa, sendo para isso importante que a sua elaboração - bem como a dos projetos que lhes são associados -, seja desenvolvida por empresas ou profissionais especializados nestes serviços.

Destaco dois exemplos de sucesso em que a LCG participou como empresa de assessoria contabilística e outro, em que participou como consultora na elaboração da candidatura ao sistema de incentivos em Inovação, Investigação e Desenvolvimento (I&D). O primeiro está relacionado com a manutenção de dezenas de postos de trabalho nos Açores na área hoteleira, em que o facto de terem sido aproveitados os sistemas de incentivos específicos dos Açores relacionados com a pandemia, permitiu a manutenção da empresa e dos postos de trabalho. Outro exemplo é aquele em que elaborámos a candidatura, cuja componente inovação ligada à mão de obra especializada em Portugal contribuiu para que uma empresa aeroespacial alemã de renome escolhesse Portugal como local de investimento em I&D para a fabricação de componentes para foguetões.

 

Os gestores consideram difícil obter apoios financeiros? Que dificuldades mostram?

Nesta altura, e a par das dificuldades decorrentes da sustentabilidade económica e financeira das projetos a médio prazo, resultantes da incerteza da retoma dos mercados, a maior dificuldade no que diz respeito às micro e médias empresas, passa por assegurarem a percentagem exigida de capitais próprios necessários à realização do projeto ou mesmo pela falta de capacidade para obtenção de garantias bancárias, o que poderá ser decisivo em projetos que necessitem de recorrer a empréstimos bancários.

Existe ainda outra dificuldade a assinalar, que decorre da

falta de conhecimento antecipado da abertura dos programas e do curto prazo para entrega das candidaturas, o que obriga a um esforço adicional para preparação e apresentação de alguns projetos que não tenham sido preparados atempadamente.

 

Quais os grandes erros cometidos pelos empresários nas suas candidaturas?

Há vários erros, nomeadamente aqueles que estão frequentemente ligados ao facilitismo com que é encarado o processo de candidatura, no entanto, destaco dois que normalmente são fatais.

O primeiro está relacionado com a ideia de que o incentivo é uma forma de financiamento à atividade normal da empresa, descurando-se a perspetiva estratégica de futuro da empresa. O segundo prende-se com a tendência dos empreendedores em criarem projetos ou ideias de negócio que se encaixem em determinado programa, sem que se encontrem reunidas as competências e as condições mais adequadas ao desenvolvimento do projeto proposto.

 

Numa altura em que se vislumbra alguma possibilidade de retoma, quais são os grandes desafios que os empresários têm pela frente?

O maior desafio é a luta contra a incerteza e a capacidade de os empresários projetarem os seus negócios além do horizonte, passando em grande parte pela união de esforços e pela partilha permanente de conhecimento.

 

Que conselho daria aos empresários neste momento?

Recomendaria aos empresários empreendedores que encarassem com otimismo os tempos que aí vêm e que não deixassem de aproveitar os apoios da União Europeia, dando asas às suas ideias. A LCG está determinada em colocar toda a sua experiência e competência no sentido de converter as ideias dos empresários em projetos vencedores.